O “PRÍNCIPE DOS POETAS” DEFINITIVAMENTE
EM CASA:
MUSEU CASA GUILHERME DE ALMEIDA
POR: SILVANIA SILVEIRA
o museu biográfico e literário Casa Guilherme
de Almeida
é uma instituição da Secretaria
de Estado da Cultura, Administrado
atualmente em parceria com a Poiesis
– Organização Social de Cultura.
Inaugurado em março de 1979, abriga um
significativo acervo composto de objetos que pertenceram ao poeta, tradutor,
jornalista e advogado paulista Guilherme de Almeida (1890-1969), um dos
mentores do movimento modernista brasileiro. O museu está instalado na
residência onde ele viveu de 1946 até o ano de sua morte.
A Casa
Guilherme de Almeida — cujo objetivo central é promover o conhecimento da obra
do poeta — oferece ao público intensa programação cultural, relacionada ao
amplo campo de atuação de Guilherme, incluindo-se cursos, oficinas, palestras,
mesas- redondas e recitais.
Uma das áreas
de produção de Guilherme de Almeida, com a qual conquistou especial notoriedade
pela excelência dos resultados, é a da tradução de poesia: o fato motivou a
criação, no museu, de um Centro de Estudos de Tradução Literária, cujo objetivo
é oferecer atividades relacionadas à teoria e à prática da tradução, bem como à
obra do poeta. Outra finalidade do Centro de Estudos é a realização de edições,
também voltadas aos segmentos em que Guilherme atuou: diversos livros já foram
publicados por iniciativa da Casa — incluindo-se reedições de trabalhos do
escritor —, em colaboração com diferentes editoras.
Após um período fechado, para reestruturação e obras de
adequação, o museu reabriu, em dezembro de 2010, à visitação pública. As
visitas, sempre orientadas, são realizadas de terça a domingo, das 10h às 18h.
POETA
E TRADUTOR, O POETA PAULISTA, GUILHERME DE ALMEIDA, DEIXOU UMA OBRA COM MAIS DE
75 PUBLICAÇÕES.
Guilherme de Andrade e Almeida nasceu em Campinas, SP, a
24 de julho de 1890. Filho do jurista e professor de direito Estevão de Araújo
Almeida e de Angelina de Andrade Almeida passou os primeiros anos da infância
nas cidades de Limeira, Araras e depois Rio Claro, onde realizou os estudos
primários. Em 1902 tornou-se aluno do Ginásio de Campinas e, em 1903, com a
vinda da família à cidade de São Paulo, ingressou no Colégio de São Bento;
formou-se, em 1907, no Ginásio Nossa Senhora do Carmo, dos Irmãos Maristas. Em
1912, concluiu o curso da Faculdade de Direito do Largo de São Francisco; após
a formatura, atuou como promotor público em Apiaí e em Mogi-Mirim. De volta à
Capital em 1914, trabalhou com o pai até 1923, quando passou a se dedicar
prioritariamente à atividade de escritor, iniciada alguns anos antes.
Nova Versão da Editora Globo |
Guilherme de Almeida e Osvald de Andrade
Seu primeiro livro de poemas, Nós,
veio a lume em 1917; ao qual se seguemA dança das horas e Messidor,
ambos de 1919, e o Livro de Horas de Sóror Dolorosa,
publicado em 1920. Escreveu, em 1921, o ensaio Natalika e os atos em verso Scheherazada e Narciso
– A flor que foi um homem. Publicou Era
uma Vez... em 1922. Nesse
mesmo ano, atuou decisivamente na realização da Semana de Arte Moderna, ao lado
de Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Di Cavalcanti e Menotti del Picchia,
entre outros. Ajudou a fundar a revista Klaxon
(porta-voz do movimento), integrando a equipe de editores; criou a capa do
periódico, além de anúncios publicitários dos patrocinadores, de concepção
precursora da visualidade da arte de vanguarda e da própria propaganda
moderna.
O lindo poema reproduzido a seguir pertence ao livro “O Anjo de Sal”, de 1951:
LEMBRANÇA
Lembro o pudor da paisagem
e a fanfarra de perfumes
que o claro clarim dos lírios
abria nas madrugadas.
e a fanfarra de perfumes
que o claro clarim dos lírios
abria nas madrugadas.
Lembro o susto dos insetos
na castidade das águas,
e as asas do pó fugindo
atrás da luz desnudada.
na castidade das águas,
e as asas do pó fugindo
atrás da luz desnudada.
Lembro a fala dos caminhos
ao longo dos passos cegos,
e os ventos enovelados
na cabeleira das nuvens.
ao longo dos passos cegos,
e os ventos enovelados
na cabeleira das nuvens.
Lembro o bulício da palha
quando pisavas a tarde,
os olhos cheios de folhas
e as mãos repletas de ninhos.
quando pisavas a tarde,
os olhos cheios de folhas
e as mãos repletas de ninhos.
Lembro a noite dos meus olhos
sem luas no seu silêncio,
quando ficavas na sombra
e a sombra ficava estrela.
sem luas no seu silêncio,
quando ficavas na sombra
e a sombra ficava estrela.
Lembro a palavra parada
na flor adiada da boca,
e lembro o beijo retido
ao gesto alado de adeuses.
na flor adiada da boca,
e lembro o beijo retido
ao gesto alado de adeuses.
[http://literaturaemcontagotas.wordpress.com/2009/09/30/lembranca-de-gulherme-de-almeida/]
“...dentro da própria morte, o encanto de viver”!
ESTA VIDA
Um sábio me dizia: esta existência,
não vale a angústia de viver. A ciência,
se fôssemos eternos, num transporte
de desespero inventaria a morte.
Uma célula orgânica aparece
no infinito do tempo. E vibra e cresce
e se desdobra e estala num segundo.
Homem, eis o que somos neste mundo.
Assim falou-me o sábio e eu comecei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Um monge me dizia: ó mocidade,
és relâmpago ao pé da eternidade!
Pensa: o tempo anda sempre e não repousa;
esta vida não vale grande coisa.
Uma mulher que chora, um berço a um canto;
o riso, às vezes, quase sempre, um pranto.
Depois o mundo, a luta que intimida,
quadro círios acesos: eis a vida.
Isto me disse o monge e eu continuei a ver
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Um pobre me dizia: para o pobre
a vida, é o pão e o andrajo vil que o cobre.
Deus, eu não creio nesta fantasia.
Deus me deu fome e sede a cada dia
mas nunca me deu pão, nem me deu água.
Deu-me a vergonha, a infâmia, a mágoa
de andar de porta em porta, esfarrapado.
Deu-me esta vida: um pão envenenado.
Assim falou-me o pobre e eu continuei a ver,
dentro da própria morte, o encanto de morrer.
Uma mulher me disse: vem comigo!
Fecha os olhos e sonha, meu amigo.
Sonha um lar, uma doce companheira
que queiras muito e que também te queira.
No telhado, um penacho de fumaça.
Cortinas muito brancas na vidraça
Um canário que canta na gaiola.
Que linda a vida lá por dentro rola!
Pela primeira vez eu comecei a ver,
dentro da própria vida, o encanto de viver.
Guilherme faleceu em 11 de julho de 1969, em sua casa da Rua Macapá, no Pacaembu, em São Paulo – a "Casa da Colina" –, onde residia desde 1946; adquirida pelo Governo do Estado na década de 1970, a residência do poeta tornou-se o museu biográfico e literário Casa Guilherme de Almeida, inaugurado em 1979, que abriga também, hoje, um Centro de Estudos de Tradução Literária.
O CENTRO DE REFERÊNCIA PARA
OS ESTUDOS DE TRADUÇÃO LITERÁRIA
Dada a importância do poeta Guilherme de
Almeida como tradutor, criou-se na Casa Guilherme de Almeida o Centro de
Estudos de Tradução Literária, que funciona paralelamente às atividades
museológicas.
O Centro permite a um público mais amplo familiarizar-se com a especificidade da tradução literária e poética, área de conhecimento apenas abordada no âmbito universitário, notadamente de pós-graduação. Para tanto, conta com colaboradores de renome, com sólido trabalho no campo da tradução e dotados de aparato teórico diversificado, bem como de reconhecida prática pedagógica. Além de ocupar um espaço representativo na programação cultural da Casa, a tradução literária é o foco do evento TRANSFUSÃO – Encontro de Tradutores da Casa Guilherme de Almeida, a ser realizado, pela primeira vez, no período de 30 de setembro a 3 de outubro de 2011. Esse Encontro, de frequência anual, foi concebido para promover o intercâmbio entre autores e tradutores brasileiros e estrangeiros e propagar o resultado da reflexão e da produção atuais nesse campo de atividade.
A Casa também promove cursos e palestras voltados à poesia e à literatura, de modo geral, dedicando-se particularmente à obra de Guilherme de Almeida. Realiza, ainda, eventos em outras áreas de atuação do poeta, como o cinema: o pioneirismo de Guilherme na crítica cinematográfica em nosso país inspirou as formação do “Núcleo Cinematographos de Estudos de Cinema” do museu.
A produção poética do escritor paulista é objeto de investigação do Grupo de
Análise e Pesquisa da Obra de Guilherme de Almeida, constituído em 2011 e
integrado por especialistas e interessados em literatura. Em julho, mês em que
se celebram o nascimento e a morte do poeta, realiza-se anualmente a Semana
Guilherme de Almeida, que concentra eventos em torno de sua obra literária,
além de abordar outras áreas de interesse e atuação do escritor.
Coleção Estudos & Fontes
O teatro ídiche em São Paulo, livro de Berta Waldman, coedição da Casa Guilherme de Almeida com a editora Annablume, abriu a Coleção Estudos & Fontes, dedicada (também com base na atuação plural de Guilherme) a trabalhos nas áreas de cultura, história, literatura, poesia, tradução, arte, cinema e música.
Poética de Os sertões, volume contendo o artigo “A poesia d’Os sertões” (1946), de Guilherme de Almeida, e “Transertões”, de Augusto de Campos – que tratam de aspectos poéticos da linguagem euclidiana –, e Margem, último livro de poemas, inédito, de Guilherme de Almeida, são os títulos seguintes da Coleção.
O teatro ídiche em São Paulo, livro de Berta Waldman, coedição da Casa Guilherme de Almeida com a editora Annablume, abriu a Coleção Estudos & Fontes, dedicada (também com base na atuação plural de Guilherme) a trabalhos nas áreas de cultura, história, literatura, poesia, tradução, arte, cinema e música.
Poética de Os sertões, volume contendo o artigo “A poesia d’Os sertões” (1946), de Guilherme de Almeida, e “Transertões”, de Augusto de Campos – que tratam de aspectos poéticos da linguagem euclidiana –, e Margem, último livro de poemas, inédito, de Guilherme de Almeida, são os títulos seguintes da Coleção.
Edições em colaboração
A voz dos botequins e outros poemas, pela Editora Hedra, com a colaboração da Casa Guilherme de Almeida – título dados à atual edição dos poemas de Verlaine selecionados e traduzidos por Guilherme para integrar o volume Paralelamente a Paul Verlaine, por ele lançado em 1944 –, inaugurou o ciclo de lançamentos em 2010.
Flores das “Flores do mal”, livro lançado em 2010 pela Editora 34, com a colaboração do museu, reúne 21 poemas do clássico de Charles Baudelaire recriados por Guilherme, originalmente publicados em 1944.
Poetas de França, uma colaboração com a Editora Babel, é a quinta edição – lançada em julho de 2011 –, da antologia de poesia francesa (que inclui de François Villon a Paul Éluard), organizada e traduzida pelo poeta paulista, publicada originalmente em 1936.
A voz dos botequins e outros poemas, pela Editora Hedra, com a colaboração da Casa Guilherme de Almeida – título dados à atual edição dos poemas de Verlaine selecionados e traduzidos por Guilherme para integrar o volume Paralelamente a Paul Verlaine, por ele lançado em 1944 –, inaugurou o ciclo de lançamentos em 2010.
Flores das “Flores do mal”, livro lançado em 2010 pela Editora 34, com a colaboração do museu, reúne 21 poemas do clássico de Charles Baudelaire recriados por Guilherme, originalmente publicados em 1944.
Poetas de França, uma colaboração com a Editora Babel, é a quinta edição – lançada em julho de 2011 –, da antologia de poesia francesa (que inclui de François Villon a Paul Éluard), organizada e traduzida pelo poeta paulista, publicada originalmente em 1936.
Coleção Oficinas
O projeto do Centro de Estudos de Tradução Literária iniciou sua Coleção Oficinas com a publicação de uma plaquete contendo a produção de alunos que integraram uma Oficina de Tradução de Poemas realizada em 2010.
A segunda plaquete da Coleção é composta por trabalhos
dos alunos de uma Oficina de Tradução de Contos, também realizada em 2010.
Está programada, para 2012, a edição do romance Ruth Hall (1854), de Fanny Fern, traduzido pela
primeira vez a nossa língua por alunos da Oficina de Tradução de Prosa, em
desenvolvimento.
AÇÃO EDUCATIVA DA CASA GUILHERME DE
ALMEIDA
O Núcleo Educativo da Casa Guilherme de Almeida está preparado para mediar visitas participativas ao museu, que podem ser agendadas ou espontâneas.
Como
complemento às visitas agendadas – feitas em grupos de, no máximo, 20 pessoas
–, minioficinas para prática artística e literária, baseadas no acervo da Casa
e na obra do poeta, serão ministradas por nossos educadores.
Visitas
espontâneas – feitas em grupos de, no máximo, oito pessoas – serão sempre
acompanhadas por um educador.
Mais
Informações:
>>> Visitas espontâneas sempre orientadas <<<
>>> Visitas agendadas para grupos <<<
>>> Programação educativa específica <<<
educativo.cga@poiesis.org.br
>>> Visitas espontâneas sempre orientadas <<<
>>> Visitas agendadas para grupos <<<
>>> Programação educativa específica <<<
educativo.cga@poiesis.org.br
http://www.casaguilhermedealmeida.org.br/#,
em 27 de janeiro de 2012
www.google.com.br ( todas as imagens aqui inseridas têm seus autores identificados no google imagens ou no site da Casa Guilherme de Almeida)